Depois do sinal #007
Construtivismo, Max de Castro e a dolorosa/prazerosa experiência de reler Manolo Florentino
💡 📒 Reflexões de uma jornada no construtivismo
Escrevi esse texto em tópicos na tentativa de sintetizar minha experiência com o construtivismo ao longo dos últimos anos, sem idealizações, mas com um olhar realista sobre o que tem sido uma jornada profundamente significativa. Nele, destaco os aprendizados mais marcantes que vivenciei ao atuar em uma escola com essa abordagem. Com esses pontos, quis expressar os desafios, as descobertas e a constante troca de saberes que vêm transformando minha prática pedagógica e enriquecendo o modo como percebo o ensino e a aprendizagem. Mais que uma análise, é um relato do prazer e da complexidade de trabalhar em uma educação centrada nas relações e na construção coletiva do conhecimento.
A importância da escuta ativa
Nesses anos, aprendi que o papel do professor vai muito além de transmitir conteúdo. A escuta ativa é essencial no processo de ensino construtivista. Ouvir as crianças, entender suas dúvidas e interesses, me ajudou a criar um ambiente de diálogo constante, onde o conhecimento é construído coletivamente. As crianças se sentem protagonistas, e isso transforma a relação com o aprender.
O papel central da mediação
Um dos princípios mais marcantes do construtivismo que vivencio na prática é a mediação. Não sou apenas um transmissor de informações, mas um mediador das experiências que as crianças vivenciam. Esse papel tem exigido uma postura ativa em identificar as zonas de desenvolvimento proximal de cada aluno e promover desafios que os impulsionem. Essa mediação respeita o ritmo e as necessidades de cada um, mas sempre com foco no avanço.
Aprender com os erros
Um dos maiores aprendizados que levo desse tempo é como o erro pode ser uma ferramenta poderosa. O construtivismo me ensinou a desmistificar a ideia do erro como fracasso, abraçando-o como parte fundamental do processo de aprendizagem. Ao trabalhar com projetos e atividades colaborativas, vi os alunos explorarem possibilidades, falharem e, a partir disso, desenvolverem soluções criativas. Essa prática me levou a repensar o modo como avalio o progresso dos estudantes.
O impacto da colaboração
Ao longo desses cinco anos, a colaboração tem sido uma constante. Tanto entre os alunos quanto entre os próprios professores. A troca de experiências e o trabalho em grupo, com base no respeito e na escuta, têm me confirmado que o conhecimento é construído em redes. Quando vejo os alunos se ajudando, construindo juntos suas soluções, entendo o valor desse processo. Essa dinâmica fortalece a autonomia e a empatia, preparando as crianças para o mundo além da escola.
A flexibilidade curricular
Outro aspecto que se consolidou na minha prática é a flexibilidade curricular. O construtivismo abre espaço para que o currículo seja moldado a partir das necessidades e interesses dos alunos. Aprendi a valorizar o currículo vivo, que pode ser transformado a partir dos questionamentos das crianças. A liberdade para adaptar temas e projetos conforme o contexto torna a aprendizagem mais significativa e conecta a teoria à realidade.
A experiência de reler A paz nas Senzalas
Li A Paz nas Senzalas: Famílias Escravas e Tráfico Atlântico, Rio de Janeiro, 1790–1850, de Manolo Florentino e José Roberto Góes, pela primeira vez na faculdade. Naquele momento, o livro já me chamou a atenção pela profundidade, mas agora, relendo com mais experiência e outro olhar, sinto que ele está me atingindo de uma forma ainda mais marcante. Cada página parece me convidar a ver com mais clareza a força e a resistência que emergiam entre os escravizados no Brasil, mesmo nas condições mais adversas.
Florentino e Góes trazem à tona a realidade de que, apesar da brutalidade do sistema, os escravizados no Rio de Janeiro conseguiram criar e manter laços familiares e redes sociais. Eles desafiam o olhar simplista que muitos de nós carregamos, mostrando que a vida nas senzalas não era só dor e fragmentação, mas também cheia de laços e estratégias de sobrevivência.
Reler Paz nas Senzalas agora tem sido como abrir uma nova camada de entendimento sobre a história da escravidão e da resistência no Brasil. Os autores nos oferecem uma visão realista e rica em detalhes, mas sem perder de vista a humanidade dos que viveram essa realidade. Essa obra continua essencial para entender o sistema escravista e, acima de tudo, para enxergar as redes de afeto e resiliência que emergiram mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
🎼 O som da semana
Max de Castro fez parte constatemente das minhas incursões pela nova música brasileira, já no final da década de 1990. Sempre me fascinou por demais a capacidade inventiva - e sem afetações - desse camarada,
Essa semana ouvi repetidamente Orchestra Klaxon, um disco cheio de referências incríveis, do Modernismo ao Soul, passando por uma reverência santificada do samba e sua história.
🎨 Ryan Gajda
Do site Upfest:
Ryan é um ilustrador de Bristol, originário dos vales do sul de Gales, que gosta de desenhar retratos ásperos de pessoas com aparência ansiosa. Seu trabalho incorpora uma mistura de processos tradicionais e digitais com muita tinta e bordas afiadas.
Para conhecer mais, acesse:
🚀 Saideira
Café História: “1914 – A Primeira Guerra”: os 110 anos da guerra de trincheiras
Revista Anfibia: “Con AFA no se pela, se pierde”.
Portal Lunetas: Txai Suruí mostra às crianças que amar é revolucionar
Noturno
Edimilson de Almeida Pereira
Se os poetas as temeram no passado – um por
imaginá-la indo à morte por tocar a esfera
e outro por intuí-la no calor da cidade
estranha
– por que não exibiria o horror nas pupilas
o recém-chegado?Um pardal furioso desce sobre os farelos. Ao
seu impacto, o menino cresce. Logo os
pombos lutam pelos restos.
A infância se enerva.





